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04/02/2025 - Emergências zoosanitárias na avicultura: a importância da prevenção e resposta rápida

É com grande satisfação que inauguro esta coluna no AviSite, um espaço dedicado à troca de conhecimento sobre os desafios e avanços da avicultura moderna. Como médico veterinário, com mestrado pelo Departamento de Nutrição e Produção Animal (VNP) e doutorado pelo Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal (VPS) da FMVZ-USP, venho atuando na linha de frente da defesa sanitária animal. Atualmente, sou responsável pelo Programa Estadual de Emergências Zoossanitárias (PEEZ), coordenando ações estratégicas essenciais para proteger o setor produtivo do estado de São Paulo contra ameaças zoossanitárias.
Minha trajetória inclui ampla experiência nos Programas de Defesa Sanitária Animal, com ênfase no Programa Nacional de Sanidade Avícola (PNSA), com foco especial na gestão de emergências zoossanitárias, biosseguridade e aplicação de novas tecnologias no setor. Esta coluna abordará temas como biosseguridade, doenças aviárias, emergências zoossanitárias, análise de dados, IoT, inteligência artificial e automação na avicultura, entre outros temas relevantes, oferecendo informações relevantes e aplicáveis ao dia a dia dos produtores.
Convido você a acompanhar e participar dessa discussão essencial para fortalecer ainda mais a sanidade e eficiência produtiva da avicultura brasileira.

Breve Histórico do Programa

A resposta eficiente a emergências zoossanitárias no Brasil sempre exigiu a presença de um Estado forte, preparado e tecnicamente embasado. Grandes epidemias no passado demonstraram a necessidade de um sistema robusto de vigilância e resposta rápida para conter doenças que representam riscos à produção avícola, ao comércio internacional e à segurança alimentar. Enfermidades como Influenza Aviária Altamente Patogênica (IAAP), Peste Suína Africana e Febre Aftosa já causaram enormes impactos em diferentes países, reforçando a importância de estruturas preventivas sólidas.

Diante desse cenário, o Grupo Especial de Atenção às Suspeitas de Enfermidades Emergenciais (GEASE) foi criado em 1999 para atuar como uma força-tarefa estratégica na rápida contenção de surtos e na defesa da avicultura nacional. Seu trabalho foi fundamental desde o início, conduzindo ações decisivas como o exercício simulado de Febre Aftosa em Cedral (SP) e a eutanásia de animais importados da Europa devido à ocorrência de Encefalopatia Espongiforme Bovina.

Nos anos seguintes, o grupo consolidou sua atuação, sendo acionado para situações críticas reais, como o foco de Febre Aftosa no Mato Grosso do Sul (2005) e no Paraná (2006). Em 2007, organizou um simulado específico para Influenza Aviária, alinhado com as melhores práticas internacionais de controle sanitário.
A partir de 2022, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo fortaleceu ainda mais essa estrutura, criando o Programa Estadual de Atenção às Suspeitas de Enfermidades Emergenciais (PEASEE), que assumiu a coordenação do GEASE. Em sua nova fase, o programa já iniciou exercícios práticos para Febre Aftosa na USP Pirassununga, treinamentos de resposta para Peste Suína Clássica e Africana, e capacitações sobre o Sistema de Comando de Incidentes (SCI).

Em 2024, para alinhar-se às diretrizes nacionais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), tanto o PEASEE quanto o GEASE passaram a se chamar, respectivamente, PEEZ (Programa Estadual de Emergências Zoossanitárias) e GEEZ (Grupo Estadual de Emergências Zoossanitárias), consolidando-se como os principais instrumentos estaduais para a resposta rápida e eficaz às doenças emergenciais.

 

O Papel do Estado nas Emergências Zoossanitárias


Desde 2022, a disseminação da IAAP pela América Latina tem gerado desafios sem precedentes para a avicultura, atingindo diversos países com surtos de grande impacto. Em 2023, o Brasil confirmou os primeiros casos da doença, exigindo ações imediatas e coordenadas para conter sua propagação e proteger o setor produtivo. Essa nova realidade reforça a necessidade de um planejamento estratégico eficaz e um sistema de resposta sanitária robusto, que garanta a rápida identificação e mitigação de surtos.
Neste sentido, o Estado desempenha um papel central na estruturação, coordenação e execução das ações de prevenção e resposta às emergências sanitárias. No estado de São Paulo, o Programa Estadual de Emergências Zoossanitárias (PEEZ) atua como o principal instrumento governamental para conter surtos e minimizar impactos sanitários e econômicos.

Alinhado às diretrizes do MAPA, o PEEZ coordena os esforços do Grupo Estadual de Emergências Zoossanitárias (GEEZ), assegurando que todas as ações sejam integradas, rápidas e eficazes. Para isso, o programa conta com ferramentas avançadas, como o Sistema de Comando de Incidentes (SCI), garantindo que todas as partes envolvidas operem de forma coordenada e eficiente na mitigação de riscos.
Além da atuação técnica e científica, o Estado também mobiliza parcerias com órgãos de segurança pública, Defesa Civil e instituições de pesquisa, ampliando sua capacidade de resposta e assegurando que os impactos das crises sejam minimizados. Esse compromisso contínuo fortalece a sanidade avícola e garante que a produção nacional continue atendendo aos mais altos padrões sanitários e comerciais.

Prevenção: a chave para reduzir emergências zoossanitárias

Embora a resposta rápida a surtos seja essencial, a prevenção continua sendo a ferramenta mais eficaz para proteger a avicultura contra emergências zoossanitárias. A adoção rigorosa de protocolos de biosseguridade é a principal barreira contra a introdução e disseminação de agentes patogênicos. Medidas como controle de trânsito de pessoas e veículos nas granjas, desinfecção adequada de equipamentos, manejo correto de resíduos biológicos e barreiras sanitárias rigorosas são fundamentais para evitar a entrada de patógenos nos sistemas produtivos.

Além disso, a vigilância epidemiológica ativa e contínua desempenha um papel crucial na detecção precoce de possíveis ameaças. O monitoramento de aves comerciais e silvestres, aliado a testes laboratoriais frequentes, permite a identificação antecipada de doenças antes que atinjam proporções epidêmicas. A vacinação, quando aplicável, também é uma ferramenta complementar importante para reduzir a disseminação de determinadas enfermidades.

Simulado de Emergência Zoossanitária em Bastos

Em alinhamento com as diretrizes do PEEZ e do MAPA, um exercício simulado de resposta a emergências zoossanitárias será realizado em Bastos, município referência na produção de ovos no Brasil. O objetivo do simulado é avaliar a capacidade de resposta das autoridades sanitárias, produtores e demais agentes envolvidos em um cenário de surto de Influenza Aviária Altamente Patogênica (IAAP). Durante o exercício, serão testados protocolos de notificação, isolamento, depopulação, descarte de carcaças e desinfecção de instalações. A realização desse simulado reforça o compromisso do Estado com a preparação contínua e o aperfeiçoamento das estratégias de contenção de surtos, garantindo uma avicultura mais segura e resiliente.

Conclusão

A prevenção e resposta rápida a emergências zoossanitárias são pilares fundamentais para garantir a sustentabilidade da avicultura brasileira. O papel do Estado, por meio de programas estratégicos como o PEEZ e o GEEZ, é garantir que qualquer ameaça sanitária seja contida com eficiência, agilidade e integração.
Diante dos desafios crescentes, a vigilância epidemiológica contínua, o aprimoramento das práticas de biosseguridade e a capacitação de profissionais são estratégias indispensáveis. O setor avícola deve se manter alinhado às diretrizes técnicas e científicas mais avançadas, garantindo não apenas a segurança da produção, mas também a proteção da saúde pública e da economia nacional.
Ao investir na integração setorial, na adoção de novas tecnologias e no fortalecimento das capacidades de resposta do Estado, a avicultura brasileira poderá enfrentar e superar desafios sanitários com resiliência e eficiência. O compromisso com a biosseguridade e a sanidade animal é a chave para mantermos nossa competitividade e garantir um futuro sustentável para o setor.

Fonte: AviSite

Créditos da Imagem: AviSite

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