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30/11/2021 Biosseguridade como ferramenta no controle das infecções por Campylobacter

A campilobacteriose é a principal causa de gastroenterites de origem alimentar em humanos, causando quadros de enterites agudas e, em casos mais severos, resultando em sequelas graves como Síndrome de Guillain-Barré, artrite reativa, Síndrome de Miller-Fisher e morte. Estima-se que anualmente 37.600 mortes são causadas mundialmente por infecções por Campylobacter spp. Estudos apontaram que na Europa os custos anuais relacionados ao tratamento da campilobacteriose e das sequelas por ela gerada estão estimados em 2,4 bilhões de Euros, ao passo que nos Estados Unidos, este custo é estimado em 2,9 bilhões de Dólares.

O consumo de carne de frango é apontado como uma das principais fontes de contaminação por Campylobacter spp. em humanos, assim sendo, o controle deste patógeno deve estar entre as principais preocupações dos que constituem a cadeia produtiva desta proteína.

Sabe-se que existe uma correlação entre a contaminação das aves durante o período produtivo e das carcaças após o processamento, no entanto, é fundamental entendermos o fato de que nenhuma planta de processamento pode evitar a contaminação quando lhe são entregues aves contaminadas, dessa forma, as ações de prevenção de contaminação dos lotes dentro da granja são fundamentais no controle das infecções por Campylobacter spp. e, conforme demonstrado em vários estudos, práticas de biosseguridade estão entre as mais efetivas ferramentas de controle, principalmente devido ao fato de que a principal forma de propagação é a contaminação horizontal.

Oportunidades de controle de contaminação por Campylobacter spp.

A limpeza e desinfecção exerce importante papel no controle de Campylobacter spp.. Sempre que possível deve-se contemplar o processo completo de limpeza e desinfecção do aviário incluindo a limpeza seca, limpeza úmida com a utilização de detergente apropriado, visando maior remoção de matéria orgânica e desinfecção do ambiente e dos equipamentos.

Nessa questão, a escolha do desinfetante é fundamental para o êxito no processo. Deve-se optar por desinfetantes com formulação estável, principalmente frente a desafios de campo como água dura e presença de matéria orgânica, que sejam seguros aos aplicadores, biodegradáveis e que apresentem eficácia não somente contra o patógeno em questão, mas também contra os principais patógenos que acometem as aves, já que o estado imune destes animais tem papel fundamental na propagação de Campylobacter spp.

A higiene dos trabalhadores é apontada como uma das principais ferramentas no controle da propagação de Campylobacter spp. Granjeiros e outros funcionários adentram os aviários cerca de 150 vezes durante o período produtivo do lote, assim sendo, constituem um risco significante de introdução e propagação da Campylobacter spp. Estudos indicam que práticas como banho, lavagem das mãos, troca de calçados e utilização de pedilúvios resultaram em redução significativa (>50%) nas contaminações por Campylobacter. Pesquisas indicaram que uma das principais formas de introdução do patógeno nos aviários são as botas dos trabalhadores, assim sendo a utilização de pedilúvios é fundamental. Deve-se atentar à remoção da matéria orgânica das botas com a utilização de escovas ou lava-botas antes de mergulhá-las nos pedilúvios e a solução desinfetante deve ser trocada diariamente ou sempre que houver acúmulo de matéria orgânica. O desinfetante utilizado deve possuir indicação para este tipo de utilização e ser estável mesmo na presença de matéria orgânica. É importante que o descarte proveniente da troca das soluções seja realizado de forma responsável.

O controle de pragas também é essencial nas estratégias de controle de Campylobacter spp. Várias pesquisas apontam que moscas, principalmente a Musca domestica e cascudinhos (Alphitobus diaperinus) podem atuar como reservatórios e vetores de Campylobacter. Assim sendo, estratégias de controle integrado como tratamento adequado de cama, uso de telas e utilização de inseticidas eficazes, seguros e devidamente registrados no Mapa são indispensáveis. Roedores também podem carrear Campylobacter em seu trato intestinal e excretá-lo pelas fezes, aumentando o risco de introdução do patógeno, assim sendo, como demonstram alguns estudos, um controle efetivo de roedores pode reduzir significativamente os índices de contaminação.

Veículos de transporte de ração e de aves também podem introduzir ou propagar o patógeno, dessa forma, é essencial que sejam adotadas práticas de higienização e desinfecção efetivas, atentando à pneus, para-lamas e partes inferiores do veículo. As gaiolas de transporte também devem ser devidamente higienizadas e desinfetadas, já que a Campylobacter pode sobreviver por longos períodos nas fezes secas, gerando risco de as aves serem contaminadas durante o transporte para o abatedouro.

O tratamento de água também é crucial na prevenção da introdução e propagação de Campylobacter spp. Estudos indicam que a utilização de ácidos orgânicos via água de bebida pode ser uma medida estratégica para reduzir a contaminação horizontal entre as aves. Seu uso no pré-abate também pode reduzir a contaminação das carcaças no frigorífico. A limpeza e desinfecção das linhas de água também é essencial para garantir a qualidade e a higiene da água fornecida às aves, evitando a propagação do patógeno. Em estudo desenvolvido na Noruega a utilização de desinfetantes via água de bebida se mostrou como a medida preventiva que mais impactou na prevalência de

Campylobacter nos lotes estudados. Porém, é importante ter em mente que para que se faça este tipo de utilização, o desinfetante tenha indicação de rótulo específica para este tipo de uso.

Conforme exposto, as medidas de biosseguridade exercem significativa influência no controle de O consumo de carne de frango é apontado como uma das principais fontes de contaminação por Campylobacter spp. em humanos, assim sendo, o controle deste patógeno deve estar entre as principais preocupações dos que constituem a cadeia produtiva desta proteína e, associadas a outras estratégias de controle integrado, podem garantir máxima segurança alimentar aos mercados consumidores.

Fonte: O Presente Rural.

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